quarta-feira, 22 de julho de 2009

Figura-fundo: pluralidade da estrutura humana

O site do Instituto Gestalt-Centro, de Porto Alegre (RS) (http://www.igestalt.psc.br/) traz informações completas sobre a teoria gestáltica da qual "emprestamos" sua definição do processo de figura-fundo presente na abordagem:

"Na subjetividade da percepção a escolha pode ser consciente ou inconsciente do que para aquela pessoa aparece como figura ou fundo. O processo de formação é dinâmico, o organismo seleciona e desenvolve formas próprias de auto-conservação. Qualquer fenômeno observado nunca é uma realidade objetiva em si. A figura depende do fundo sobre o qual aparece; o fundo serve como uma estrutura ou moldura em que a figura está enquadrada ou suspensa, e por conseguinte, determina a figura. Vir ao mundo significa poder partilhar, com os outros, o seu modo de ser. Mas o ser sem que me pertencesse isoladamente, me anularia como individualidade; porém o ser que me define em minha individualidade, me abre a coexistência e determina uma esfera infinita em que substituem possibilidades infinitas de encontro, de comunicação, de compreensão entre o eu e o outro. Nenhum olhar é meramente individual, ainda que seja sempre o indivíduo que vê. Isto porque o indivíduo é um ente coexistente. O homem é plural. Os outros não são aqueles com quem o indivíduo convive, nem aqueles que o completam; os outros constituem-no. sem o outro o indivíduo não é. Nunca estamos acabados como algo presente, estamos sempre abertos para o futuro no sentido de conduzir a nossa vida. Quando o ser é compreendido na sua impermanência, no seu aparecer, desaparecer, é a existência humana mesma, entendida como coexistência (singularidade e pluralidade) em seus modos de ser no mundo. Qualquer escolha é aquilo que pode redespertar, ou colocar em movimento o que já vive em nós, por isso nos desperta atenção. Por esse motivo a tendência de me identificar com algumas pessoas."

Antológicas de Perls

"Aprender não é simplesmente armazenar informações, é descobrir que algo é possível."

"Torne-se vazio para que você possa ser preenchido."

"O presente é a única coisa que realmente existe. No passado não se mexe, mas o presente é absolutamente construção".

"Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são pecados. Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. Você teve coragem de dar algo de si."

Sinais que evidenciam o final dos tempos: desafio às percepções

"Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. (note que tais coisas têm efeito prático, em uma sociedade dividida entre a corrupção, as carências e o emprego do mal). Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade." (II Timóteo, 3)
Campo de análise: A questão do final dos tempos atinge um grau elevado de discussão social e está, para o grau de conscientização humana como a espiritualidade para as explicações dos fenômenos que permeiam a própria existência. Desta forma, lendo esta passagem de Timóteo na Bíblia, aproximamos a compreensão da mensagem histórica com a leitura que o homem dá ao seu vínculo com a vida, e com a morte. Não há como desvincular as questões psicológicas das questões espirituais. Qualquer emprego de separação seria, no mínimo, leviandade. O homem é o que acredita. Neste tal "aqui-agora" que se configura socialmente, o assunto final dos tempos ganha corpo em razão das próprias emanações de sinais, em todos os lugares da Terra. Gestalticamente, nossa visão vai de encontro a maneira como o ser humano percebe tais sinais e como eles representam uma força incomum ao cognitivo, sensações, emoções, crenças e, principalmente, nas ações vivenciais. Há pessoas ligadas às materialidades do mundo e aquelas que estão em desapego crescente. Como enquadrar-se na esfera existencial é uma questão que merece grande atenção, terapeuticamente falando. Certamente o "final dos tempos" com carimbo bíblico equaliza as ações humanas no entendimento de si mesmo e das fragilidades do ambiente. Vale como pensamento e discussão.

A intervenção do psicoterapeuta, no orkut

No orkut, a comunidade "Gestalt-terapia" tem, até este momento, 6.733 pessoas adicionadas. Uma das questões levantadas no fórum de discussões é sobre a intervenção do psicoterapeuta. Algumas pessoas manifestam suas visões e vale à pena integrarmos ao "Vida Gestáltica", com a permissão devida:
Para Luciana Borges, do Rio de Janeiro, "a Gestalt-terapia nasceu à margem, e precisou mesmo, num primeiro momento, se expandir mostrando suas técnicas, até porque era a grande novidade naquele momento. Acho q esse é um dos rótulos da Gestalt, e também uma grande armadilha: ser um punhado de técnicas! Essas técnicas encantam as pessoas, chamam atenção... Mas quando não se sabe o que fazer depois da aplicação delas, a 'porca torce o rabo', e a Gestalt fica na 'boca do cachorro'. A teoria é importante por isso, pra que não se faça por fazer. Temos mesmo uma responsabilidade muito grande, de saber o que estamos fazendo, com nossos clientes, seja como terapeutas, ou em qualquer outra área de atuação do Gestalt-terapeuta. Temos sim um embasamento teórico consistente e coerente, que vem sendo desenvolvido pelos Gestalt-terapeutas de nova e de velha geração, como o pessoal do Nordeste mesmo. O método que utilizamos precisa estar em sintonia com a forma como entendemos o homem na sua relação consigo e com o mundo. Concordo que cada terapeuta vai ter um estilo. Cada relação terapeuta-cliente vai ser única, resultado da interação de dois seres igualmente singulares. O homem gestáltico é um ser relacional, e é nessa relação que ele se constrói a cada instante, se reconfigurando, se transformando. Por isso a questão da relação dialógica é central na Gestalt. Mas também concordo que existe uma linha muito tênue que diferencia uma relação terapêutica permissiva, produtiva e criativa de uma relação de amizade. E aí estamos mesmo falando de algo que vai além da questão da relação mais horizontal entre terapeuta e cliente, que é a 'postura terapêutica'! Mesmo com uma distância, ou uma neutralidade, o terapeuta corre o risco de virar 'amigo' do cliente, dando conselhos por exemplo."
Sergio Machado diz que "é verdade que algumas linhas estabelecem limites bem claros na relação terapeuta-cliente, no tocante a contato físico e envolvimento do terapeuta. Poucos teóricos da psicologia foram tão longe nessa determinação quanto Freud, que estabeleceu explicitamente praticamente cada aspecto do processo de análise, muito embora isso tenha acontecido bem depois de Anna O - que por sinal nem era paciente dele, e sim de Breuer e na verdade a psicanálise ainda não existia nessa época. Talvez em parte por isso mesmo tantos psicanalistas tenham tanta dificuldade em se adequarem a todos estes aspectos, e o mais comum seja uma aproximação conveniente. Perls não teorizou, creio eu, a esse respeito. O que se pode saber de objetivo acho que pode ser visto nas gravações e transcrições de sessões, mas mesmo isso eu creio que não é adequado. Me parece que o próprio terapeuta deve descobrir, na verdade reinventar, a maneira de conduzir suas sessões usando de criatividade e intuição."
Pensamentos que servem para discussão conjuntural sobre a prática da intervenção.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O sentido, o "sentir" e o reagir

A vida diante da dor ou a dor diante da vida

O jornalista Gilberto Dimenstein, em sua coluna dominical na Folha nos traz, como muita propriedade, discussões reflexivas acerca do social, relevante e irrelevante, capacitando nosso olhar nu no microscópio visceral de suas análises. Na edição do caderno Cotidiano de 19 de julho último, Dimenstein cita o psiquiatra austríaco Viktor Frankl em seu tratado sobre o sentido da vida. A citação vai de encontro ao texto do jornalista, que comenta sobre a necessidade de viver e suportar as dores estabelecidas pelo próprio desgaste natural da vida. Em Nova York, entre trabalhos estruturais, pacientes envolvidos sob intensas batalhas a favor do direito de viver, apesar do risco de morte emimente.
Frankl é considerado o "pai da logoterapia" e autor da obra Über den Sinn des Lebens ("Sobre o significado da vida"), escrita em 1921. Também esteve presente em campos de concentração nazistas (inclusive em Auschwitz, um dos mais violentos, ilustrado na foto acima) onde clarificou experiências científicas com judeus sem um mínimo de respaldo e expostos à crueza. Dimenstein emergiu esta questão sobre laços diametrais da própria vida recauchutada como antídoto inabalável para uma certa morte inevitável. Trouxe como pilar o enfrentamento do vice-presidente José Alencar na luta contra tumores e disposto a "renascer" em busca de sentidos peculiares de valorização do honroso direito de estar vivo.
Frankl investigou mulheres que haviam tentado o suicídio. Com isso, teve, pela primeira vez, sua atenção voltada para a questão do sentido de viver e da vida sem significado. Este ponto-chave é o "xis" da chave gestáltica sob leis existencialistas, a que fomentamos e defendemos aqui, a fim de brindar este homem contemporâneo com o sabor de sua própria essência, importar o que realmente importa, relevar o sentido totalizado. Sobretudo, entender a que propõe a natureza e seus caminhos. Fixar o homem frente a frente com sua essência/existência.
A logoterapia de Frankl semeava tal pensamento neste homem partindo dos seguintes princípios:

  • Através de um trabalho ou feito, valorizá-lo e empreendê-lo como campo de conhecimentos;
  • Novos relacionamentos pessoais, agregando valores estimulantes;
  • Conscientizar-se do sofrer e suas armadilhas, mas aprendendo com lições e principalmente, ações.

Há que se trabalhar para a busca incessante do sentido da vida, abrindo portas do descobrimento e construindo janelas de uma existência simplificada pelo sabor da essência. Que o sentido da vida peça licença para existir, de fato.

sábado, 18 de julho de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Criatividade e saúde na Gestalt

A psicoterapeuta Selma Ciornai escreve sobre a relação entre criatividade e saúde na Gestalt-terapia, em texto de 1995, apresentado no 1º Encontro Goiano de Gestalt-terapia. Vale o registro aqui.
Segundo ela, essa relação se inicia em suas raízes na concepção existencial de ser humano na qual é visto como estando sempre num possível estado de refazer-se, de poder escolher e organizar sua existência criativamente. A visão existencial afirma a capacidade humana de escolher seu próprio destino, de transcender limites e condicionamentos. Esta postura no entanto não implica em que se ignore que existam pressões, violências, condicionamentos, limites externos e pessoais, mas entende que a possibilidade de escolha, de lidar criativamente com estes limites é sempre existente.
Victor Frankl (1959), psiquiatra que passou parte da segunda guerra em um campo de concentração nazista, ao escrever sobre suas experiências no campo, afirma que mesmo sob condições horríveis e absolutamente desumanas como aquelas, existia a possibilidade de uma escolha no como posicionar-se internamente diante daquela situação.
O indivíduo então, através dos múltiplos e variados contatos que vivencia, cresce e se desenvolve, idealmente assimilando o que o enriquece e nutre e alienando de si o que lhe é tóxico, respondendo às requisições, exigências e convites do meio num contínuo processo de ajustamento criativo.
Ajustamento criativo e contato são conceitos chaves na Gestalt-terapia pois implicam não apenas em “ajustamento” mas em “ajustamento criativo” e não só em “contato”, mas em “contato criativo”.
Como uma planta que cresce assimilando do solo e do ar nutrientes que lhe ajudarão a crescer, ao mesmo tempo em que cria e desenvolve mecanismos para se proteger de elementos que possam ameaçar sua existência, filtrando poluentes, desenvolvendo raízes fortes, fechando-se ao contato com elementos potencialmente agressivos, criando formas inusitadas para receber o sol ou proteger-se das intempéries.

Perls e a incoerência no ato de viver

“Deus me livre das pessoas de caráter. É que as pessoas de caráter são únicas, não mudam, não evoluem, têm obsessão pela coerência. E a vida não é assim. Na vida você tem de aparentar muita incoerência para poder viver todos os seus lados. Eu me sinto uma incoerência só, hoje em dia.”
(Fritz Perls)
Análise: a necessidade de ser livre é latente neste pensamento. O que apregoa a Gestalt, a capacidade que o homem tem de voar com os pés no chão e auto-gerenciar sua própria condição, vem como resíduo dessa afirmação de Perls. Ele reacende a condição da 'desformatação', de sair do quadrado. O que está coerente.

O conjunto humano é racional

"Sinto pouca simpatia pela idéia bastante generalizada de que o homem é, em princípio, fundamentalmente irracional e que os seus impulsos, quando não controlados, levam à destruição de si e dos outros. O comportamento humano é, no seu conjunto, extremamente racional, evoluindo com uma complexidade sutil e ordenada para os objetivos que o seu organismo, como um todo sistêmico, se esforça por atingir. A tragédia, para muitos de nós, deriva do fato de que as nossas defesas internas nos impedirem de surpreender essa racionalidade mais profunda, de modo que estamos conscientemente a caminhar numa direção, enquanto organicamente caminhamos em outra."
(Carl Rogers)

Carl Rogers e sua visão humanística

O norte-americano Carl Rogers (1902 - 1987) implantou o método de atendimento direcionado à pessoa do cliente. Confrontou, de início, as teorias comportamentalistas de Skinner. Rogers é considerado um representante da corrente humanista, não diretiva, em educação. Rogers concebe o ser humano como fundamentalmente bom e curioso, que, porém, precisa de ajuda para poder evoluir. Eis a razão da necessidade de técnicas de intervenção facilitadoras. O rogerianismo e a psicologia gestáltica andam parelhos.
Com isso, Rogers classificou alguns métodos pelos quais considerou como efetivos dentro do trabalho psicoterapêutico:
  • Primeiro, ele parte do princípio que o cliente é basicamente responsável por si próprio, e desejar que o cliente mantenha essa responsabilidade.
  • Em seguida, o psicólogo deve agir sob o princípio de que o cliente tem uma forte tendência a tornar-se maduro, socialmente ajustado, independente, produtivo e confiar nessa força e não em seus próprios poderes, para realizar mudanças terapêuticas.
  • Deve então criar uma atmosfera calorosa e permissiva, na qual o cliente esteja livre para trazer qualquer atitude ou sentimento que possa ter, não importando quão absurdo, não convencionais ou contraditórios sejam. O cliente é tão livre para resguardar sua expressão quanto para expressar seus sentimentos.
  • Seus limites estabelecidos forem simplesmente limites quanto ao comportamento e não limites quanto às atitudes. (pode não ser permitido à criança quebrar a janela, mas ela é livre para sentir vontade de quebrar a janela e esse sentimento é plenamente aceito).
  • O terapeuta deve também usar na terapia somente aqueles procedimentos e técnicas que transmitam seu profundo entendimento das atitudes expressas, carregadas de emoção, e sua aceitação delas. A aceitação do psicólogo não envolve aprovação, tampouco desaprovação.
  • Por fim, deve abster-se de qualquer expressão ou ação que seja contrária aos princípios anteriores. Isto significa evitar perguntar, sondar, culpar, interpretar, aconselhar, sugerir, persuadir, reassegurar.

A Gestalt na reconstrução do indivíduo fragmentado

A teoria da Gestalt desenvolveu-se como protesto contra a análise atomística vigente no final do século 19. A análise atomística tentava compreender a experiência da pessoa de forma que os elementos dessa experiência eram reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada componente era analisado separadamente dos outros e, a experiência total era entendida como uma soma destes componentes.
Friedrich Perls, psicanalista alemão iniciou este desmembramento com a teoria de Freud nos ano 50, onde definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a capacidade de emergir do apoio e da regulação ambientais para um auto-apoio e uma auto-regulação.
O processo terapêutico representa um esforço na direção desta emergência. O elemento crucial no auto-apoio e na auto-regulação é o equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo possui a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As condições para realizar este equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades. (do www.psiqweb.med.br)
Hoje, a terapia gestáltica é uma contribuição latente na reconstrução de um indivíduo fragmentado, partido em pedaços chamados de "conflitos" e bloqueios para o crescimento psicológico sustentável. Ao meu ver, é a forma mais realística de enfrentamento de situações neuróticas.

A incapacidade de perceber a essência

"O ser dito criativo sofre retaliações em um mundo neurótico, em que a sociedade se pauta por amarras e angústias mal-resolvidas. Ser criativo, muitas vezes, é ser considerado lunático, louco, subversivo. O problema é de interpretação, da própria percepção cega desta sociedade. A capacidade criativa do indivíduo é um dos maiores dons que Deus deu ao homem e até hoje não foi absorvida como tal. A gestalt social permanece aberta."
(Marcus Vinícius Gabriel)

O ser humano pode e deve gerenciar seus passos

Foi Kurt Goldstein quem priorizou o termo "auto-regulação" no organismo, formulando sua teoria. Para ele, todo organismo vivo pode se "atualizar", sempre respeitando seus limites e sua própria natureza. Goldstein dizia: “Esta tendência a atualizar sua natureza e a si mesmo é o impulso básico, o único impulso pela qual a vida do organismo é determinada”. Aí entra a Gestalt-terapia. Com métodos de impulsos novos a "alertar" este indivíduo da necessidade de consciência sobre seus passos. A GT é uma técnica que atua na gestão interpessoal, não apenas colocando em evidência o problema psicológico, sem orientar para a solução dele. O "meio", segundo Goldstein, nunca é estático ou imutável. O rio nunca é o mesmo, todos os dias. Aí entram os princípios do Existencialismo e sua configuração de ser-no-mundo.
Perls ampliou a teoria organísmica de Goldstein para o lado psicoterapêutico. Para ele, mecanismos neuróticos têm a função de "atrapalhar" a retomada de decisões que visam dar uma nova configuração de Ser a este indivíduo. O ser humano pode e deve gerenciar seus passos. Basta se conscientizar disso.

A Gestalt em empresas

Sobre o papel da Gestalt em empresas, extraí do site www.desenhoindustrial.com.br elementos interessantes sobre a abordagem e sua prática organizacional:
"Transcorridos pouco mais de 50 anos desde a proposição da Gestalt Terapia, a abordagem gestáltica consolidou sua presença no cenário das práticas psicológicas, seja como abordagem psicoterapêutica, quanto como alternativa pedagógica, bem como eficiente instrumento na área de Recursos Humanos das empresas."
Em outro contexto, porém complementar:
"A Gestalt pode ser aplicada para se estudar o clima organizacional, por exemplo, baseando-se em tendências percebidas nas experiências e comportamentos específicos das pessoas dentro da organização. Os psicólogos Lewin, Lippitt e White introduziram o conceito de clima no vocabulário da psicologia social; para definir as condições psicológicas criadas pelos líderes de um grupo de rapazes num ambiente controlado. Lewin, Lippitt e White estavam interessados nas conseqüências dos comportamentos dos líderes. Em consequência de treinamentos de vários líderes que se comportaram em estilos e maneiras diferentes, conceituaram estilos de lidereança como: democrático, autoritário e laissez-faire, isso se deu a partir da observação os efeitos nos subordinados em relação aos líderes. Lewin fez a seguinte observação sobre o líder autocrático: “tive poucas experiências que foram tão impressionantes ao ver as expressões nos rostos dos rapazes no primeiro dia sob o domínio do líder autoritário. O grupo, que antes de entrar no grupo autoritário estava amigável, aberto, participativo, cooperativo e cheio de vida e alegria, logo, dentro de 30 minutos, tornou-se apático e sem iniciativa.” (The Climate for Service, Schneider, Bowen, Ehrhart & Holcombe – 1995)
Tanto publicidade e propaganda, como a área de desenho industrial e design usufruem gestalt em trabalhos de composição criativa e artística, pois o lado perceptivo vai de encontro às sensações codificadas pelas pessoas e é assim que se destina tais produções. A Gestalt está em tudo o que vemos e sentimos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pato ou coelho?

"Em psicologia, neurociência e ciências cognitivas, percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de histórico de vivências passadas. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos. A percepção pode ser estudada do ponto-de-vista estritamente biológico ou fisiológico, envolvendo estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos órgãos dos sentidos. Do ponto-de-vista psicológico ou cognitivo, a percepção envolve também os processos mentais, a memória e outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos dados percebidos."

De Wikipédia.

Começo e meio

Atribui-se a Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kôhler (1887-1967), Kurt Koffka (1886- 1941) e Kurt Goldstein (1878-1965) a origem do pensamento gestáltico, entre as décadas de 30 e 40. Nasceu, portanto, na Alemanha, mais sobretudo em Frankfurt.
A maneira de olhar o todo originaria o pensamento e sua psicologia. Para eles, esse "total" não é somente a soma de cada uma de suas partes. O conhecimento do mundo se obtém através de elementos que por si só constituem formas organizadas. O todo é mais do que a soma das partes que o constituem.
Por exemplo: uma cadeira é mais do que quatro pernas, um assento e um encosto. Uma cadeira é tudo isso, mas é mais que isso: está presente na nossa mente como um símbolo de algo distinto de seus elementos. O mesmo significaria para o homem em seu total.
Fritz Perls (1893-1970) aparece em seguida, após codificar tal teoria que envolvia a forma como se percebia o homem, suas partes e seu todo. Desenvolveu uma forma de psicoterapia de orientação gestáltica. A gestaltoterapia ou terapia Gestalt orienta-se segundo o conceito que o desenvolvimento psicológico e biológico de um organismo se processa de acordo com as tendências inatas desse organismo, que tentam adaptá-lo harmoniosamente ao ambiente.
Perls morreu no ano em que nasci. Curioso.

Existencialismo, campo de atuação e mecanismos de defesa

O Centro de Estudos de Gestalt-terapia de Brasília (DF) traz, em seu site http://www.cegest.org.br/, perguntas frequentes envolvendo a Gestalt, como um todo. Permitam-me publicar neste blog o material de Dolores Peixoto Oliveira (CRP 01/1172) e Elayne Magaldi Daemon (CRP 01/10923):
  • A diferença da Gestalt com o Existencialismo: a Gestalt-terapia parte de uma filosofia existencial que se volta para a práxis, desenvolvendo, pois, inter-relações educacionais e psicoterápicas. Poder-se-ia dizer, portanto, que a Gestalt-terapia é um existencialismo fenomenológico aplicado. A diferença é de ênfase e não de postura ou de crença no ser humano, ou seja, o existencialismo é mais voltado para o pensamento, para a filosofia; a Gestalt é mais voltada para a aplicação, para a práxis deste pensamento.
  • O campo de trabalho em Gestalt-terapia: o gestalt-terapeuta está inserido em um contexto do mercado de trabalho que reflete o mundo de hoje com suas crises e questionamentos atuais, onde o ser humano tem sido constantemente desrespeitado nos seus valores, nas suas crenças, no seu modo de ser existencial, individual e social. A função do psicólogo da Gestalt-terapia tem sido procurar restabelecer a confiança do indivíduo em relação a si mesmo e no seu interagir com o mundo. Sob esse aspecto, temos tido muito trabalho a fazer, em várias áreas.
  • Sobre projeção e deflexão (mecanismos de defesa neuróticos): projeção e deflexão, sob o ponto de vista da Gestalt-terapia, não constituem problemas em si mesmos. São mecanismos de defesa que uma pessoa pode desenvolver em um determinado contexto de sua vida, no qual ela precisa se proteger para sobreviver a situações que lhe são ameaçadoras. Na projeção, como bem o nome indica, a pessoa projeta para o mundo externo aquilo que de alguma forma diz respeito a si mesma e que não há uma permissão sua (pelos introjetos da educação pedagógica) para sentir ou agir daquela forma. “A deflexão é um outro mecanismo que a pessoa desenvolve para se desviar de um contato direto com outra pessoa.”

Gestalt, behaviorismo e comunicação social: ligações históricas

Juliana Fausto, em estudos publicados em 1999, diz:
"A Escola da Gestalt não se limitou apenas à percepção, mas expandiu suas teorias a várias áreas de conhecimento, revolucionando a psicologia e influenciando diretamente muitos pensadores. Pode-se dizer, por exemplo, que o behaviorismo de Skinner bebe basicamente da fonte da Gestalt. Esta foi e continua sendo uma escola revolucionária e de um imenso valor histórico."
Encontro afirmação análoga sobre influências gestálticas no behaviorismo:
Artigo de Lazzarotto e Rossi relaciona o behaviorismo e a Gestalt com a comunicação social, pois elas julgam que os princípios básicos dessas teorias psicológicas permitem uma reflexão acerca da comunicação. A medida que o texto apresenta esses princípios, são relacionados como a publicidade, em especial, utiliza-se deles. "Enfatizei principalmente a Gestalt por que acredito que seja a teoria que a maioria tem menor conhecimento. Além disso, relacionei sempre que lembrei com alguma propaganda que se utilizava da teoria, ao menos aparentemente. Os anúncios e os anunciantes passam a se utilizar mais fortemente destas teorias e de outras a partir do momento que informar sobre o produto simplesmente não funcionava mais para a venda destes, assim essas mensagens passaram agora a impulsionarem uma compra irracional. O condicionamento e o comportamento observável são os conceitos behavioristas mais utilizados pela mídia. Acredito que a propaganda nova da Skol, aquela dos ratinhos, é muito clara nesse sentido. Porque as propagandas se utilizam desses conceitos indiretamente, mas essa propaganda mostra o behaviorismo explicitamente."
Na publicidade - O outro conceito do behaviorismo importante, segundo o artigo, é o comportamento reflexo (involuntário) e o operante. Quando às propagandas de refrigerante, por exemplo, colocam pessoas famosas e bonitas, faz com que os consumidores que a bebem vejam como conseqüência o sucesso e não a celulite. Nesse caso, a sede seria o estímulo incondicionado, beber o refrigerante o estímulo condicionado e o reforço seria o sucesso. “Os meios de comunicação munem-se de condições para manipular não somente o sujeito, mas também sua forma de conhecer objetos.” (p.31) Assim, utiliza-se da freqüência de repetição do slogan, a intensidade, a mudança de movimento (é mais atraente uma propaganda com uma pessoa falando do que parada), e ainda a sensibilização do mecanismo de percepção individual.
Conclusão - As duas teorias enfatizam o ambiente, e as respostas e percepção do sujeito. Dessa forma, as duas servem à manipulação ou ao menos a possibilidade de manipular o sujeito e talvez por isso, são tão amplamente usadas pela comunicação social direta ou indiretamente e consciente ou inconscientemente.

O caráter experimental da Gestalt-terapia

Afonso Lisboa da Fonseca, psicólogo e gestalt-terapeuta, ressalta no site http://www.gestalthoje.com.br/ a primazia da experimentação fenomenológica existencial. Segundo ele, as formulações de Fritz Perls apontam para uma um caráter experimental na intervenção gestáltica. Seguem os trechos:
"O caráter basicamente experimental em Gestalt-terapia funda-se numa disposição para assumir afirmativamente o vivido, e o processo hermenêutico de seu desdobramento, como referencial básico de criação, e de afirmação da vida, de avaliação e de orientação. Em especial, como um referencial de promoção da alegria, de uma super abundância de forças de vida, e do que Nietzsche chamava de grande saúde. Tanto pela influência direta e indireta da filosofia da vida de Nietzsche, como pela direta influência do Expressionismo, a perspectiva da experimentação fenomenológico existencial passou de um modo forte para a concepção da condição humana, para a concepção e logos metódico da Gestalt-terapia. Uma das características mais fundamentais desta postura fenomenológico existencial experimental é a de ser ela um empirismo. Um empirismo num sentido particular, é certo, uma vez que não é um empirismo objetivista, não é um empirismo do objeto, mas um empirismo do vivido. A concepção de empirismo diz respeito a uma abordagem da realidade a partir da própria vivência da tal realidade, e não a partir de pressupostos teóricos. Empirismo é a abordagem da realidade na própria vivência da realidade, ao invés de uma abordagem a partir da teoria."

O papel da Gestalt nos plantões psicológicos

Artigo da gestalt-terapeuta Roseleide da Silva Santos aborda a questão do plantão psicológico, sob esta abordagem. É uma explanação interessante e oportuna, a respeito da atuação do psicólogo em situações plantonistas. Segundo ela, é a partir da abordagem centrada na pessoa, em Carl Rogers, o início de todo o processo de atendimento em vivências como essas. "Acreditamos que o indivíduo é capaz de aprimorar sua potencialidade inerente em recursos para uma existência plenamente satisfatória", diz. A seguir, trechos de seu artigo que reproduzo aqui, com muita atenção:
"A Gestalt-terapia trabalha a partir do que o cliente traz para o atendimento, o que para ele é importante naquele instante, ou seja, a sua necessidade preponderante. Em termos gestálticos, estamos falando do conceito figura e fundo. Esta abordagem afirma que a pessoa deve ser vista como um todo, ou seja, que seu comportamento só se torna compreensível a partir de sua visão dentro de um determinado campo com o qual ela se encontra em relação. O indivíduo é uma totalidade, composta por partes interligadas que estabelecem um fluxo de necessidades, que à medida que são realizadas dão espaço a outras, criando, assim, seu ciclo vital. Esta visão organísmica nos permite compreender o indivíduo como um organismo que integra uma totalidade e como tal o que ocorre em uma parte afeta o todo. A Teoria Organísmica, que tem sua origem nos estudos de Kurt Goldstein com pacientes de guerra com lesão cerebral, foi devidamente analisada e acrescentada a Gestalt-terapia, quando Perls relata que 'a formação de uma Gestalt, a emergência de necessidades, é um fenômeno biológico primário. Assim, abolimos toda a teoria do instinto e consideramos o organismo simplesmente como um sistema que está em equilíbrio e que deve funcionar adequadamente. Qualquer desequilíbrio é experienciado como necessidade a ser corrigida. A situação mais urgente emerge e, em qualquer caso de emergência, você percebe que ela prevalece sobre qualquer outra atividade. Portanto, chegamos agora ao fenômeno mais importante e interessante de toda patologia: auto-regulação versus regulação externa' (Tellegan, 1984, pg. 39). Basicamente, podemos exemplificar com as necessidades de alimentação, dormir etc."
A necessidade do equilíbrio homeostático é a questão sumária. Em situações de enfermidade, carência afetiva e baixa-estima, esta necessidade torna-se o pilar da atuação. A conscientização da realidade enfrentada no aqui-agora deste paciente, também. Além do desmembramento da figura-fundo (necessidade-totalidade).
A gestalt-terapeuta salienta que "a Gestalt-terapia nos responde que podemos desenvolver ajustamentos criativos capazes de saciar nossas necessidades através da relação com o meio, ou seja, usamos de nossa capacidade criativa para interagir com o meio que por algumas vezes pode se tornar hostil."

O "todo" e o parcial

"A 'fórmula' fundamental da teoria da Gestalt poderia ser expressa da seguinte maneira: existem totalidades, cujo comportamento não é determinado pelos seus elementos individuais, mas nos quais os processos parciais são eles mesmos determinados pela natureza intrínseca do todo."
(Max Wertheimer)

Publicidade + Gestalt = Universo

"A publicidade hospedou-se na casa gestáltica e de lá não saiu mais. A arte perceptiva, aliada à guerrilha do consumismo, é a mais clara evidência de que a vida, em si, é plenamente gestáltica. Anúncios publicitários são figura-fundo o tempo todo, na visão que o homem tem dele mesmo espelhado nas mídias. Um ser real ou surreal, único ou agregado, autônomo ou dependente. Sem contar a potencialidade criativa deste homem, um publicitário de sua própria natureza."
(Marcus Vinícius Gabriel)

> Acima, anúncio gestáltico-criativo da campanha da Lego.
"A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo."
(Merleau-Ponty)

O que prioriza o Humanismo

A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do homem, sendo importante campo da psicologia, na forma de Gestalt-terapia. Mas foi Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra humanista. Depois de anos a finco praticando psicanálise, notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu tratamento, portanto não era passivo, como passa a idéia de paciente, denominando então este como cliente. Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa). Seus métodos foram usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas centradas nos alunos. Apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a psicologia:
Congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a Empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu sentimento), e a Aceitação Incondicional (aceitar o outro como este é, em seus defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo sobre as oito fases psicossociais, em detrimento às quatro fases psicossexuais de Freud, onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente determinam as fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não parando na primeira infância. Viktor Frankl, com sua logoterapia, veio a acrescentar os aspectos da existência humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um este vazio de sentido na vida, busca auxílio pois não se sente confortável em viver sem sentido ou ideais. Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca pelo sentido da vida. Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas podem criar um aspecto de fortaleza no indivíduo.
O humanismo gestáltico focaliza no homem como detentor de liberdade, escolha, sempre no presente.

O que implica a Fenomenologia

Ela inicia na segunda metade do século XIX, a partir das análises de Franz Brentano sobre a intencionalidade da consciência humana, trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. Propõe a extinção da separação entre "sujeito" e "objeto" (opondo-se ao pensamento positivista do século XIX) e examina a realidade a partir da perspectiva de primeira pessoa.
Fenomenologia deriva das palavras gregas phainesthai (que significa aquilo que se mostra), e logos (que significa estudo), sendo etimologicamento então "o estudo do que se mostra".
É o método de apreensão da essência absoluta das coisas. A fenomenologia tem como objeto de estudo o próprio fenômeno, isto é, as coisas em si mesmas e não o que é dito sobre elas, assim sendo a investigação fenomenológica busca a consciência do sujeito através da expressão das suas experiências internas. A fenomenologia busca a interpretação do mundo através da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências.
O método fenomenológico consiste em mostrar o que é apresentado e esclarecer este fenômeno. Para a fenomenologia um objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado tal como é para o sujeito e sem interferência de qualquer regra de observação cabendo a abstração da realidade e perda de parte do que é real, pois tendo como objeto de estudo o fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece. Para a fenomenologia um objeto, uma sensação, uma recordação, enfim, tudo tem que ser estudado tal como é para o espectador.
Edmund Husserl, Sartre, Merleau-Ponty e Heidegger são os principais nomes da filosofia fenomenológica.
Perls sugou dessa água cristalina para fazer o suco chamado de Gestal-terapia.

O que reitera o Existencialismo

Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é considerado o maior nome do Existencialismo filosófico, compreendido como um conjunto de doutrinas filosóficas que tiveram como tema central a "análise do homem em sua relação com o mundo", em oposição a filosofias tradicionais que idealizaram a condição humana.
Apesar de sua fama de pessimista e lúgubre, o existencialismo, na verdade, é apenas uma filosofia que não faz concessões: coloca sobre o homem toda a responsabilidade por suas ações. Schopenhauer já prenunciava tal condição.
Sartre parte do seguinte pressuposto: a existência precede a essência. Com isso, quer dizer que o homem primeiro existe no mundo - e depois se realiza, se define por meio de suas ações e pelo que faz com sua vida. Terapeuticamente, a Gestalt estabelece esta relação ao sujeito em questão.
Em essência, o Existencialismo retira de Deus a responsabilidade sobre o que somos e como somos. É um elo de discordância, segundo minhas visões. Deus é o criador, o uno, o dirigente. Como seres sociais somos existencialistas. Mas operamos nesta esfera denominada de "mundo" por força de uma criação superiora. Contudo, no pensamento sartriano há elementos de sintonia com o divino e sua liberdade dada ao homem em existência.
Por exemplo: eu não escolho nascer no Brasil ou nos EUA, pobre ou rico, branco ou preto, saudável ou doente: sou "jogado" no mundo. Existo. Mas o que eu faço de minha vida, o significado que dou à minha existência, é parte da liberdade da qual não posso me furtar. Posso ser escritor, poeta ou músico. No entanto, se sou bancário, esta é minha escolha, é parte do projeto que eliminou todas as outras possibilidades (escritor, poeta, músico) e concretizou uma única (bancário).E, além disso, tenho total responsabilidade por aquilo que sou. Para o existencialista, não há desculpas. Não há Deus ou natureza a quem culpar por nosso fracasso. A liberdade é incondicional e é isso que Sartre quer dizer quando afirma que estamos condenados a sermos livres: "Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer" (em "O Existencialismo é Um Humanismo", 1978, p. 9).

Montanha

"O Gestalt-terapeuta é um empreendedor da sensibilidade de si mesmo e alheia, antes de mais nada. São dois seres humanos buscando firmamentos, através da atitude emergente de enxergar além do que se vê, sentir além do que se sente, compor além do que já está composto e demonstrado, focar naquilo que é o princípio ativo da auto-gerência supostamente solitária, porém harmonicamente socializada. Não há espaço para o cinismo nesta relação de subida à montanha. É um alpinismo prudente."
(Marcus Vinícius Gabriel)

Gestalt e as demais abordagens

Outro aspecto que valorizo bem, dentro de minha formação em psicologia, é a maneira como a Gestalt se posiciona diante das demais abordagens, sem instituir o conceito de comparação, mas como "complementação" do trabalho psicoterapêutico em outros níveis de intervenção.
Logo de cara, a Gestalt abstrai da filosofia em três frentes de análise sua manifestação humana. Em segunda análise, o caráter descritivo gestáltico traduz o homem como organismo real, em si-mesmo. Não evidencia o problema, a "doença" ou psicopatologia, mas a forma como lidar com ela. A Gestalt coloca o cliente-paciente diante de um espelho revelador e, portanto, conscientizador. Tal amadurecimento psicológico provém desta capacidade natural (sim, natural!) que este sujeito tem para empreender mudanças significativas em sua estrutura vivencial. O homem pode, somente apresenta um quadro de "não crer que pode" mudar seu campo de visão. Nesta ponto, psicanálise e comportamentalismo colocam este homem frente a frente com seus "problemas". A Gestalt foca este homem na situação vivencial com este problema.
O diferencial filosófico da Gestalt é vital para essa compreensão sistemática. Existencialista, eleva este homem ao plano real de potencializar suas próprias responsabilidades como ser-vivente. Suas relações com o meio, idem. É humanista porque estabelece uma relação diametral entre terapeuta-cliente, mais humanizada, simples, natural e direcionada. É a partir daí que, instituidos de categorização filosófica na terapia, empreendemos a este cliente um grau bem mais globalizado de si mesmo, de auto-compreensão, dos papéis individuais e sociais no mundo e meio, do que quer e do que não quer.
Sejamos francos. O processo de reconstrução humana é completamente existencialista. Isso já é adubado na filosofia desmitificada de Arthur Schopenhauer (a quem sou grato eternamente e devo parte fundamental de meu processo de conhecimento e mudança de paradigmas) e Nietzsche. O homem livre dos mitos é o homem fortalecido de seus próprios bens naturais. A capacidade existencial deste homem está ligada àquilo que vê, enxerga, observa, capta, absorve e põe em prática. Ao seu próprio benefício.
Fenomenológica no aqui-agora, a Gestalt coloca este homem em contato com sua realidade atual, como passaporte para o que virá. O presente é a construção do "presente" deste homem para si mesmo.
Não dá para não endossar tal firmamento da condição psicológica humana. É isso.

Reestruturação individual pelas 'próprias pernas'

Para Perls o objetivo da terapia é saltar do apoio ambiental para o auto-suporte (self-support). Em outro momento encontramos como objetivo da Gestalt-terapia a awareness.
Awareness é uma palavra sem conceituação exata para o português, no entanto ela é utilizada para conceituar o que muitos chamam 'continuum de consciência', para outros seria uma transcendência da consciência de si. Essa consciência refere-se à capacidade de aperceber-se do que se passa dentro de si e fora de si no momento presente, em nível corporal, mental e emocional.
Seguindo o raciocínio, o "amadurecimento psicológico" viria como consequência dessa auto-ajuda individual, instrumentalizada pelo gestalt-terapeuta. Há que se entender que ninguém vai para lugar algum sem conscientizar-se de que pode, deve e vai chegar lá. Apoiam-se as iniciativas deste "eu", frustram-se as tentativas de transferir esta ajuda ao terapeuta. E assim vai. E como vai...

Percepção sobre o "todo"

A concepção da psicologia da Gestalt, até então antiga, é a teoria sobre como o nosso campo perceptivo segue determinadas tendências sob a forma de conjuntos estruturados. A percepção estruturada se daria seguindo a tendência das linhas e das formas, destacando as figuras de seus fundos.
Porém, não se pode reduzir os fenômenos somente ao que é percebido (ao campo perceptivo), pois deve-se levar em conta o todo sendo diferente da soma das partes.
Ex: H2O. Sabemos que a fórmula da água é de duas particulas de Hidrogênio e uma de Oxigênio; no entanto não se consegue "fazer água" apenas juntando essas duas móleculas. Assim, "o todo é diferente da soma de suas partes"; influência também herdadas das psicologias de Kurt Lewin (Teoria do Campo) e Kurt Goldstein (Teoria Organísmica).

O Ser é um "todo"

"Uma parte num todo é algo bem diferente desta mesma parte isolada ou incluída num outro todo [...] num jogo um grito é diferente de um grito numa rua deserta [...]" (Ginger, 1995, p14).

Preceitos gestálticos em psicoterapia

Os 12 preceitos para atender em psicoterapia, submissa aos principios da Gestalt, segundo Hans-Jürgen Walter:

  1. Respeitar a forma, abrindo facilidades a que a natureza de cada um se realize, haja em vista o respeito educacional e relacional que nos deve merecer o tipo psicólogico da pessoa. Não raro muitos destes males estão na família, onde, por exemplo, abusivamente se impõe fazer evoluir uma criança introvertida na linha da extroversão, ou uma criança sensorial na linha do pensamento puro.
  2. Modelar as forças internas sem as modificar muito, embora estimulando-as, encaminhando-as e rnoderando-as. A sentença é: não empurres o rio, ele corre por si mesmo. O terapeuta tem de renunciar à curiosidade, o educador tem de aceitar a distimia do educando.
  3. A intervenção tem tempos de validade útil. Interna-se um alcoólico no momento crítico em que ele supõe que a vida lhe foge, esclarece-se o adolescente com validade quando a crise o desconserta. Temos de nos colocar "onde o outro está"; bater o ferro quando está em brasa.
  4. A rapidez na ação tem medidas próprias: no crescimento, na maturação, na aprendizagem, etc. É o caso do negro que viajou a primeira vez de automóvel e, decorridos dois quilômetros, quis parar e sentar-se na beira da estrada para dar tempo a que a alma chegasse.
  5. Há que suportar caminhos mais longos do que aqueles que retilineamente parecem levar-nos a resolução ou conquista do alvo desejado. A criança em evolução e um encaminhamento psicoterapêutico são disso testemunhos flagrantes, com seus retrocessos, paragens e florações aliciantes sem concretismo.
  6. Aptidão de permuta entre orientador e orientado, alternância de cada um deles nas posições de sujeito e objecto.
  7. Modéstia no carácter relacional dos fatores causais, sabendo nós que uma causa pode originar muitas maneiras de acontecer e uma maneira de acontecer pode provir de causas muito diversas. Quanto mais recuada é uma "causa" maior é o leque dos efeitos a presumir. Tarmbém para um dado efeito, seja a frigidez ou a anorexia por exemplo, quanto mais se buscam causas no passado longínquo, mais elas se multiplicam e menores são as probabilidades de acertar. Daí o vício de algumas doutrinas que se aliciam com as buscas no passado longínquo (leia-se por psicanálise).
  8. Concretismo dos fatos atuantes. Temos que objectivar, por exemplo: para que quer dialogar? para que se propõe fazer psicoterapia? para que deseja curar-se da impotência? para que recorre a operação estética?
  9. É só a totalidade da situação presente que influencia o acontecer atual e não os fatos psicológicos passados ou futuros. É o aqui-e-agora. Jung não está longe deste pensamento. Ninguém se banha duas vezes na mesma áqua.
  10. Autenticidade e transparência do orientador. "Só na medida em que eu ofereço a realidade autêntica que está em mim, pode o outro procurar em si, com êxito, a realidade".
  11. Aceitação e valorização do outro (do diente): "quanto mais posso aceitar alguma coisa ou alguém. tanto mais facilmente consigo uma relação útil". A pessoa que eu aceito impõe-se em todos os seus valores e desvalores; desmembrá-la em qualidades de opção é tomar abusivamente a parte pelo todo, é reduzi-la a um conceito irreal, é desagregar-lhe a forma. De tal vicioso pensar se denuncia que este ou aquele indivíduo é um bom espécime de sexo ou um apreciável servo de trabalho. Por tais juízos de valor, um caçador matava ou tentava matar índios nas florestas do Brasil, liberto de sentimentos de culpa e mesmo estranhando que a lei o incriminasse. Com tal mentalização floresceu o racismo e os nazis cometeram um dos mais monstruosos crimes da história da humanidade, matando judeus e inválidos.
  12. Empatia, que "é a possibilidade que nos assiste de vermos o outro com os olhos dele; é penetrar simpaticamente em todos os sentimentos e comunicações do cliente o no seu respectivo significado de momento".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A + B = C

Entre os princípios da Gestalt, destaca-se como fundamental referência para as composições gráficas, o seguinte conceito:

O TODO É MAIS DO QUE A SOMA DAS PARTES

Isto equivale a dizer que "A + B" não é simplesmente "(A+B)", mas sim um terceiro elemento "C", que possui características próprias.

Eu e a Gestalt, a Gestalt e eu

Escolhi a Gestalt-terapia por critérios muito simples. Um deles foi entender que, prioritariamente, o homem é o que escolhe para si e em torno de si. Formatamos aquilo que somos decorrente da configuração (gestalt) que adotamos como a mais coerente com as aspirações como seres humanos, in mondo. Até início de 2008 havia em mim um sentimento puramente psicanalítico, sacramentado nas ideias de Sigmund Freud como pilares de uma escavação sem fim, acerca do psiquismo humano. Correto. Até aí, a figura central e polimorfa do psicólogo ajustaria-se variadamente neste conceito, o de "arqueólogo do comportamento". Os profissionais de psicologia são investigadores, verdadeiros Sherlock Holmes da alma-psiché, dos costumes, hábitos, trejeitos, impressões, subjetivações, sensações, percepções e, atitudes.
Cri que a psicanálise ordenaria todo esse processo de investigação, o que não é inverdade. Mas diante dos preceitos de Frederic Perls e sua dissidência escancarada com o freudismo, dei-me por insatisfeito nesta questão e procurei o caminho da emancipação deste 'homem psíquico', inconscientizado, projetado e único. Sempre me intrigara a questão do meio, discriminado por Freud na problemática humana. O behaviorismo clássico de Watson e Skinner nunca me conquistara, apesar de minha grande admiração pelos bons feitos do comportamentalismo à espécie humana. Faltava, então, um "eixo", um xeque-mate, a cartada final.
O contato com a Gestalt foi tênue e sereno. Porém, certeiro. Os preceitos ditados por Perls, acerca de dois fatores imprenscindíveis na escavação do tesouro psíquico, "percepção" e "sensação", soavam como instrumentos perfeitos. Condição do momento vivencial do sujeito, o "aqui-agora", o imediato, idem. Não poderia eu escavar o passado como um buraco sem propósito, sem saber que o "óbvio" escancarava a principal agonia humana. Perls retirou da filosofia a "pedra", o marco gestáltico e que completaria sobremaneira meu processo incessante de busca pela melhor das essências psicológicas. Existencialismo, humanismo e fenomenologia comprendiam o vulcão dessa análise. O homem é, portanto, um ser que existe, é humano e fenômeno por isso. Foi pela Gestalt que minha escavação inaugurava esta nova arte profissional.
O propósito deste blog é trazer, ao campo humano das ideias e necessidades, a clareza da psicologia gestáltica e Gestalt-terapia como serviços prestados na busca incessante pela homeostase.